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Os fantasmas do ser autêntico

  • Foto do escritor: Lucas Gomes Pereira
    Lucas Gomes Pereira
  • 26 de mar.
  • 3 min de leitura
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Em um mundo de (auto)antropofagias constantes, o que pulsa nas veias é um êxtase elétrico, o pulso de ser notado como alguém relevante. Há algo de especial nos quinze minutos de reconhecimento. O esforço constante em ser cada vez mais igual até se diferenciar de si mesmo é recompensado, e, neste sentido, pode-se degustar de um verdadeiro êxtase.


Entretanto, no verso da moeda, enquanto estamos sob holofotes temos a luz que os outros são instigados a desejar, sendo vista como recurso escasso, não há ferramenta mais útil que um ataque desenfreado até que ela se volte para iluminar o agressor, tal como na cinematografia, o agressor rouba a cena. O personagem novo, algo que pode ser melhor e ainda mais interessante — e ele sempre pode, afinal ainda não se apresentou. Vive-se neste ciclo, uma coreografia improvisada da mesma música que há muito se enjoou de ouvir, mas há um equívoco ao se pensar do que se cansou.


A construção dessas apresentações parece estar diretamente conectada com aquilo que mais admiramos ou respeitamos em nossa história e nas fábulas dos heróis e ídolos, tendo isso em vista, investe-se quase que incessantemente na tentativa de reproduzir os cenários ou momentos incríveis que aquilo que nos impressiona produziu. Isso nos leva a simulacros cada vez mais ridículos, como barões do crime tentando ser como Michael Corleone, dentre vários outros exemplos, os acontecimentos abandonam a organicidade, acontecem de forma artificial e planejada e a ficção passa a produzir e interferir diretamente a experiência da realidade.


O valor já está pré-estabelecido, tudo que é interessante ou desejável já aconteceu, então, é preciso que algo desse tipo faça parte da história do sujeito para que ele identifique seu próprio valor e assuma uma identidade a qual pensa valer a pena. Sendo assim, há um constante jogo de espelhos, onde um reflexo do item inicialmente apresentado se espalha como uma chama pelas árvores a tal ponto que já se torna difícil de rastreá-lo a origem, quando não tão óbvio.

Os momentos marcantes parecem tornar-se sombra do que deveriam ser. As conversas não parecem sérias como deviam e ninguém parece profundamente preocupado com o real, porque o real parece distante da realidade, como quando se acostuma tanto com a virtualidade apresentada nas mídias das catástrofes e acidentes, que há um senso de falsidade quando a presenciamos em carne e osso.


E se não podemos construir nossos próprios momentos sem pensar incessantemente que é isto que será a nossa história, que isto é como algo que aconteceu antes e portanto validado, podemos nos perguntar: isso já não aconteceu antes de outras maneiras? Há espaço para o novo? Ou, tão somente para a destruição e reorganização do velho em variações individuais, como se cada um deixasse para trás o que tem de mais humano e comum para tentar mergulhar na artificialidade — e aqui não falo da questão do horizonte inumano, mas da simples questão de ser incapaz de produzir e desejar sem se ver capturado por diferentes simulacros de si mesmo –, sem conseguir voltar a superfície.


Posto isso, como poderíamos viver sem a assombração da impostura, do falso? Porque no fim desejamos um protagonismo de uma história que, em essência, não nos pertence, mas queremos como nossa, queremos lê-la antes dos outros, com medo da crítica e da aniquilação.


 
 
 

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©2025 por Lucas Gomes Pereira.

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